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Estórias de pescador PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 10 May 2014 21:08

Acredito que todo mundo já ouviu a expressão “estória de pescador”, não? Sabe aquele cara que pesca um lambari de 10 centímetros e fala que pegou um dourado de 20 quilos? Pois é, não é só nos rios que cortam o território mineiro que encontramos estes peixinhos e os “pescadores de ocasião”. Nos que cortam as hostes globais também encontramos estes pescadores... pescadores graúdos, com nome e sobrenome, mas que ao invés de dar credibilidade às suas longas e vitoriosas carreiras profissionais, andaram prezando pelas varas, anzóis e minhocas.

 

Quem leu a minha biografia na página do site dos Nobres do Grid sabe que sou um mero corretor de imóveis. Ossos do ofício, domingo é dia de trabalho, de plantões de venda, dia de ganhar dinheiro pra pagar as contas. Com isso, fui privado de assistir aos ‘especiais’ dedicados ao finado tricampeão do mundo de Fórmula 1, Ayrton Senna. Que por mais que neguem os hipócritas, morreu na pista diante dos olhos do mundo.

 

Graças a diversos fãs que seguem o nosso trabalho recebemos dezenas de emails com um link onde foram agrupados os quatro programas especiais dedicados ao piloto. Apesar de ter visto muita gente criticar a falta de uns ou os exageros por parte de alguns famosos e pseudofamosos da emissora, alguns depoimentos de fãs deram a ideia do bem arquitetado processo de sentimentalização que Ayrton Senna desencadeou no Brasil com a ajuda da mídia.

 

Para quem acha que ele estava errado em se promover, eu o defendo: ele estava certo! A desgraça é termos um povo tão pobre culturalmente que pouquíssimos brasileiros sabem quem são Heitor Villa-Lobos, Carlos Drummond de Andrade ou mesmo a letra do hino nacional. Terminando por se apegar à imagem – bem trabalhada – de um atleta.

 

É lógico que ninguém em seu juízo perfeito vai, pode ou deve diminuir a imagem de um cidadão que dedicou-se tanto ao que fazia, ao que amava, que – por muitas vezes – deixava de viver para manter-se imerso naquele micro universo ao qual ele tinha uma relação de simbiose, onde a interdependência os mantinha unidos.

 

O teste na Brabham. Viu Piquet de binóculos e o assunto mal foi mencionado na mídia na época. 

 

A trajetória nos três anos na Inglaterra foi tão impressionante que fez do canal de televisão que transmitia – e ainda transmite – as corridas até hoje ir buscar em uma corrida da Fórmula 3 o “antídoto” ao campeão que não dava lá muita bola pra eles. Mas o Senna era tão bom que nem precisava disso.

 

Pois é, sendo o Senna tão bom quanto ele foi, os “pescadores da televisão” não precisavam prestar-se ao ridículo papel de deturpar, omitir ou até mesmo criar fatos relativos ao falecido. E para quem acha que eu estou exagerando, vamos recapitular algumas coisas que vocês viram... não apenas nos quatro programas dominicais, mas também no superespecial de 1º de maio, onde eu dei muita risada, diga-se de passagem, com a seleção de “corridas inesquecíveis” incluindo uma vitória do Nelson Piquet!

 

Quando Ayrton Senna começou a testar carros de Fórmula 1, ainda em 1983. A emissora fez grande estardalhaço do teste realizado na Williams, onde Ayrton Senna conseguiu fazer tempos melhores dos que os obtidos pelo então campeão do mundo, Keke Rosberg. Contudo, sobre a ‘naba’ de 1,9s tomada no teste da Brabham, nem uma mísera citação.

 

Sendo o “biografo oficial” o coordenador do projeto da homenagem, onde em seu livro ele deturpa o fato e coloca a diferença como sendo 84 centésimos menor, ainda deixa subliminado que o coitadinho do menininho, pobrezinho, testou com pneus velhos... só ele, os italianos não. Ah, vá!

 

Algum estagiário (só pode ter sido e o coitado deve ter perdido o estágio) deixou na montagem dos “momentos” um trecho onde o próprio Ayrton Senna fala, uma ótima e clara declaração do piloto sobre sua primeira equipe na Fórmula 1, afirmando que a Toleman não é uma equipe capaz de vencer corridas, mas que tinha um carro capaz de terminar corridas nos pontos e até conseguir alguns pódios!

 

Aí me aparece o ‘pescador’ com seus oculinhos e fala, mudando o discurso de que a Toleman era uma Minardi e quase uma HRT (Hispânia) e que outros tantos emails chegaram à nossa caixa postal com uma arrogante e pernóstica atitude deste senhor onde tenta negar e depois justificar o que disse em uma rede social, achando que intimidaria (Rá, Rá, Rá, como diz o Zé Simão) o outro protagonista, deturpando novamente a história, mas com outras palavras: disse que a Toleman era a menor dentre as equipes pequenas!

 

Se isso fosse verdade, a Toleman não teria terminado o ano de 1983 em 9º lugar no mundial de construtores com 10 pontos (em uma época em que apenas 6 carros pontuavam e que a pontuação era bem diferente: 9-6-4-3-2-1). A equipe ficou à frente de outras 7 (SETE) equipes.  A Arrows (que marcou 4 pontos), a Theodore (que marcou 2 pontos), e as zeradas ATS, Ligier, Osella, RAM e Spirit.

 

O show na chuva em Mônaco não era uma garantia de vitória. alguns anos depois, ele bateu mesmo no seco. 

 

Além disso, Derek Warwick, o então piloto da equipe, classificou o carro entre os 10 primeiros do Grid em 9 (NOVE) corridas, sendo três delas na terceira fila, entre os seis primeiros, num grid onde largavam 26 carros e outros cinco ou seis ficavam fora do grid, sem direito a largar. Seria como colocar o carro no Q3 nos dias de hoje em praticamente 60% das corridas do ano. E aí, a  Marrussia ou a Caterham já conseguiram largar alguma vez no Q3?

 

Em 1984, Ayrton Senna fez algo parecido, classificando a Toleman entre os 10 primeiros em 7 (SETE) das 16 provas, marcando 16 pontos, conquistando dois pódios e marcando 16 pontos. Isso colocou a Toleman em 7º lugar no final do campeonato, à frente da Alfa Romeo (11 pontos), Arrows (6 pontos), Ligier (3 pontos) e Osella (2 pontos). Além destas, terminaram o ano zeradas a ATS, a RAM, a Spirit e a Tyrrell. Se fosse a "menor entre as pequenas"certamente não conseguiria resultados assim.

 

Um corretor de imóveis não precisa de diploma de nível superior para exercer sua profissão. Contudo, somos naturalmente bons em matemática, para calcular nossas percentagens e poder fazer descontos para potenciais compradores dos imóveis que negociamos. O que eu não imaginava é que na faculdade de jornalismo o estudante esquecesse ou desaprendesse matemática.

 

Digo isso porque, vendo um dos programas dominicais em um dos links enviados, vi um outro ‘pescador’ – e esse foi surpreendente, uma vez que quase perdeu o emprego por “desagradar a primadona” – fazer um cálculo estapafúrdio, sabe-se lá de onde, ao afirmar que bastavam quatro ou cinco voltas mais para serem atingidos 75% da corrida quando da interrupção da mesma nas alagadas ruas do principado daquele 1984.

 

A corrida tinha 78 voltas estipuladas, ou o limite de duas horas. A prova foi interrompida no momento em que os pilotos iriam completar a 33ª volta e, pelo regulamento da época, ficou valendo o ratificado na 31ª passagem. Eram decorridos naquele momento, cerca de 1 hora e 5 minutos de corrida.

 

Para atingir 75% prova, ou os pilotos teriam que correr mais 25 minutos, ou dar mais 26 voltas, e completar 59 passagens, atingindo assim o percentual exigido para que os pontos fossem atribuídos por inteiro e não pela metade como o foram. Ainda assim, não haveria nenhuma garantia de que nenhum deles cometeria um erro, que o carro não quebraria... e era uma época onde carros quebravam. Em suma, corrida só termina quando acaba, na bandeirada e “adivinhação” é algo que não existe.

 

Vitória em Estoril. Na versão original, sem tema da vitória, que só era tocado no GP do Brasil. 

 

Outra deturpação que percebi nas “homenagens” foi a inserção do ‘tema da vitória’ na chegada do GP de Portugal: MENTIRA! DESLAVADA E DESCARADA! Até 1985, a música composta por Eduardo Souto Neto só era tocada nas disputas do GP do Brasil, onde até o Prost teve direito ao “Pà Pà PÃ... Pà Pà PÔ. Nas vitórias de Senna naquele ano (Portugal e Bélgica, ambas sob chuva), não teve musiquinha!

 

O lamentável disso tudo é a tentativa de fazer do piloto um ser “quase perfeito”, do qual ele esteve longe de ser, tanto dentro quanto fora das pistas, esquecendo- se das tantas vezes onde a “precisão” deixou em muito a desejar, o impulso foi além do bom senso e a ética – mesmo a do “olho por olho, dente por dente” – extrapolou a sanidade com uma batida a mais de 200 Km/h.

 

A batida em Alain Prost, a mais de 200 Km por hora poderia ter sido grave, causando a morte do francês.

 

Certamente o desatento torcedor e o quase cego fã não tenha pensado nisso até hoje, mas quando foi o primeiro piloto, responsável pelo desenvolvimento do carro da equipe, a partir de 1986, na Lotus, ele teve uma queda de desempenho na segunda metade do campeonato em relação à primeira, numa clara demonstração de que sua habilidade nata e quase sobrenatural compensava uma visível falta de afinidade com o desenvolvimento do chassi. Os “números”, tão cantados em verso e prosa para justificar sua suposta superioridade ante os outros pilotos, nesta hora “não conta”, não é? Foi evidente, explícita, a curva de declínio na qual entrou a McLaren após a saída de Prost.

 

Mas tinha algo que ele era paranoicamente obsessivo... e muito bom, excelente: os motores. Este foi o grande motivo pelo qual acabou conquistando a admiração dos japoneses da Honda e também o motivo pelo qual, inicialmente a Renault não o queria, pelas críticas severas ao motor Renault que equipava a Lotus e, por conta disso, foi obrigado a fazer uma retratação pública ainda em 1993 (e que, claro, nem foi citada nos quatro episódios do especial).

 

O Senna falível em dois momentos: Acima, o GP Brasil de 89, onde forçou uma passagem depois de ter largado mal e acabou sem o bico, sem chances, sem troféu e sem "PÃ PÃ PÃ". Abaixo, em 93, tentando passar por cima do Hill em Monza. Errava muito para um tricampeão.

 

A busca obsessiva por ter o melhor carro do grid nas mãos levou Ayrton Senna a oferecer-se para pilotar “de graça”, sem salário, para a Williams. Isso o ‘especial’ também não mencionou... jamais mencionaria e na hora em que ele achou que chegaria a hora... juntou a mudança do regulamento e cair sobre seus ombros o trabalho de desenvolvimento do carro da Williams em 1994...

 

A rodada no GP do Brasil, na subida da junção foi um sinal... um sinal que nem o mais indiferente dos observadores ou analista conseguiu perceber: Senna estava tendo que correr muito além dos limites do equipamento (sim, porque correr acima destes ele quase sempre o fez). No GP do pacífico ele não teve o que fazer... e aí veio Ímola.

 

Na subida da junção, em Interlagos, 1994, um alerta que ninguém viu. 

 

A Imprensa precisa ter um compromisso moral com a verdade. Chega de ‘pescadores’. Preservem a verdade, a história e os méritos de um dos maiores pilotos da história do automobilismo. Os torcedores, mais ou menos fanáticos podem distorcer os fatos como bem entenderem. Vocês, não... pescadores do ribeirão de piche e brita.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

 

 

Last Updated ( Friday, 09 November 2018 09:09 )