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Os apuros de Sebastian PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 29 April 2014 22:11

Olá fãs do automobilismo,

 

Fazia tempo que eu não tinha uma consulta com um paciente tão atormentado, ainda mais sendo um alemão, que todo mundo acha que é um povo frio, calculista, metódico e que eles são blindados à instabilidades, mas as ligações que Sebastian me fazia durante esta etapa em que a Fórmula 1 estava lá do outro lado do mundo estavam me angustiando.

 

Depois de cumprir com os compromissos comerciais da equipe e os seus, Sebastian voou aqui para Cuiabá e pudemos conversar longamente. O espantoso é que ele era o último dos pilotos da categoria que eu imaginava ver por aqui. No ano passado, quando instalei o consultório temporário em São Paulo, diversos pilotos foram até lá e eu, nos dias em que circulei por Interlagos, fiquei impressionada com a força e a autoconfiança deste moço.

 

Quando Sebastian chegou na Red Bull, vindo da Toro Rosso, chegava com o cacife de um vencedor, afinal, no ano anterior ele venceu um GP com a equipe satélite, fez mais pontos que os outros três pilotos rubrotaurinos juntos. A Red Bull, mesmo com Adrian Newey na equipe há três temporadas, David Couthard não conseguia vencer e acabou cedendo seu lugar para Sebastian, que encontrava no time o experiente e rápido Mark Webber.

 

Como todos que acompanharam a carreira de Sebastian desde o kart esperavam, ele não se sentiu intimidado pelo companheiro de equipe mais experiente. Desde o kart Sebastian estava acostumado a enfrentar adversários com mais quilometragem que a sua e derrotá-los, mas na Fórmula 1 as coisas são diferentes.

 

Contra Mark Webber, Sebastian Vettel impôs-se com força, técnica e apoio interno na equipe.

 

Para se impor na equipe, Sebastian contou – além do seu talento – com o apoio incondicional de seu mentor, Helmut Marko, que acompanhou seu desenvolvimento desde as primeiras categorias de fórmula. Este apoio foi fundamental nos anos de 2009 e 2010, quando a Red Bull começou a vencer corridas e a disputa interna com Mark Webber era grande. Tão grande a ponto dos dois baterem no GP da Turquia!

 

Depois sagrar-se campeão do mundo, Sebastian conseguiu uma “folga” passageira com o carro de 2011, ao qual se adaptou melhor do que o companheiro de equipe australiano. Dominou o campeonato com autoridade e seu mentor nem precisou dar as polêmicas declarações que azedavam o ambiente da equipe, fazendo de Mark Webber mais um adversário do que um companheiro de equipe.

 

Contudo, 2012 não começou com o mesmo ar de tranquilidade com que iniciou o ano anterior. O carro não era tão estável e confiável no começo da temporada e a experiência de Mark (dentro da equipe) e Fernando (na Ferrari) pesaram para que Sebastian se sentisse incomodado, pressionado.

 

Com o tempo, o clima foi ficando azedo na equipe, até ficar insustentável.

 

A equipe precisou trabalhar muito para que ele voltasse a vencer, tanto interna quanto externamente, as etapas que se seguiram. No final, a conquista por apenas três pontos mostrava que ele não podia relaxar um minuto sequer se quisesse continuar vencendo. Mas este verbo parece não existir em seu vocabulário.

 

Assim, em 2013 Sebastian aniquilou a concorrência, conquistando o título com algumas etapas de antecedência e incomodando até mesmo Bernie Ecclestone, que criou até uma regra esdrúxula de pontuação dobrada na última corrida para dar chance aos outros pilotos.

 

Na "troca de australianos", a chegada de Daniel Ricciardo deixava o tetra campeão mais 1º piloto do que nunca.

 

O que Sebastian não esperava é que o ano de 2014 viesse a ser tão complicado como tem se mostrado. Primeiro com os problemas do carro e o atraso no desenvolvimento do sistema de propulsão da Renault, depois, com a troca de companheiro de equipe que tem se mostrado um problema ainda maior.

 

Todos na Red Bull, Sebastian inclusive, sabiam do potencial de Daniel quando ele disputou as categorias de base e chegou a fazer alguns testes no carro da equipe, sempre andando bem. Contudo, o desempenho na Toro Rosso parecia não ser tão destacado assim, destacado como o dele, Sebastian.

 

Daniel conseguiu ser mais veloz do que Sebastian na maior parte das corridas do ano.

 

Contudo, Daniel mostrou um enorme poder de adaptação as diferentes condições de controle do atual carro da equipe, melhor do que o de Sebastian e se a Red Bull costumava se orgulhar do fato de não dar ordens de equipe para favorecer nenhum de seus pilotos, este ano esta regra mudou.

 

Sebastian, contudo, não está nada satisfeito com esta mudança. Afinal, é ele quem tem recebido as mensagens para dar passagem para o novato da equipe. Isso é algo que está sendo difícil de assimilar, mas ele sabe que não é uma questão pessoal, que é algo a nível de equipe e que ele faz parte da equipe, certo?

 

Na China, pela segunda vez este ano Sebastian recebeu ordem dos boxes para deixar Daniel ultrapassá-lo.

 

Logicamente pode até fazer sentido, mas para um jovem, vencedor, tetracampeão do mundo, ter que ficar dando passagem para o companheiro de equipe é constrangedor. Nem nos tempos do Mark Webber Sebastian teve que fazer isso. Porque fazê-lo agora?

 

Sebastian precisa se encontrar. Este encontro está dentro dele mesmo, mais até do que com o carro. Este desafio, dentro da própria equipe é algo que há muito ele não vivenciava e na Fórmula 1, mesmo nos anos com Mark Webber, ele sempre teve o apoio incondicional de Helmut Marko, que este ano tem estado extremamente – e estranhamente – calado.

 

O sorriso de Sebastian anda apagado, enquanto Daniel vai ficando cada vez mais a vontade na equipe.

 

O destino está em suas mãos, Sebastian. Você precisa ser tão lutador quanto o seu ídolo das pistas, o Michael, que vive o maior drama de sua vida. Seu “coma pessoal” não é tão profundo. Acorde!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares