Durante a cobertura do festival Norte Nordeste de Marcas e Pilotos realizado em dezembro último publicada na última edição desta seção Octanagem encontramos por lá um simpático senhor chamado Souto Malheiros, 63 anos que estava como observador do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Pernambucana de Automobilismo. Com uma grande vivência no automobilismo local e dono de uma prodigiosa memória, tive o prazer de conversar com ele durante os trabalhos na cobertura da corrida e saborear belas histórias sobre o automobilismo pernambucano nos anos 50, 60 e 70. Esta entrevista você acompanha logo abaixo e após ela surgiu o convite para ir em um encontro de amigos ligados ao automobilismo no bairro de Piedade, Jaboatão do Guararapes, cidade vizinha a capital pernambucana onde tive a satisfação de conhecer de perto algumas importantes figuras que fizeram a história do automobilismo pernambucano e nordestino. Sr. Souto Malheiros – representante do Tribunal de Justiça da FPA NdG: Há quanto tempo o Sr. está envolvido com o automobilismo? S.M.: Vamos dizer que 50 anos, desde os 13 anos que eu frequento corrida, Cidade Universitária, Joana Bezerra, e o nosso Caruaru querido. NdG: E no começo, como era o automobilismo em Pernambuco? S.M.: Nós andamos de Vemag, Citroën, Simca, as “Berlinetas” da Willys e depois entraram os VW 1600, Puma, Karmann Ghia, e assim foi... o “Topo Gigio” que foi campeão em 69, na semana passada eu tive o prazer de rever a foto dele. “Topo Gigio” era da Sael, Ramon Cortizo o nosso amigo, que vou estar com ele quinta-feira, em um encontro de ex-pilotos que a ente faz todo ano vamos nos encontrar. NdG: E esses carros eram só de particulares ou vinham também as equipes de fábrica? S.M.: Sim, a Willys e a Simca mandavam os carros de fábrica. Então nós tivemos aqui Bird Clemente, Luiz Pereira Bueno, Marinho, José Carlos Pace, Chico Lameirão... o Emerson não veio, veio o irmão dele Wilsinho, Marivaldo Fernandes que depois correu de Alfa P33 em Salvador em 69 (Marivaldo Fernandes/J.C. Pace), Emerson já estava na Europa mas ali deu Alfa em 69 do 1º ao 6º a P33 com “Moco” e Marivaldo ganhou, as GTA foram de 2º a 5º e 6º deu um Alfa brasileiro da “Caminhonal”. Circuito de rua em Salvador. NdG: E o circuito daqui da Cidade Universitária como que era? S.M.: Eu vou lhe lembrar alguns fatos. Em 67 ganhou uma Karmann Ghia com Pietro Carreiro Júnior, 68 foi um Puma com Lulu Geladeira da Bahia e 69 nosso amigo Ramon Cortizo com o Topo Gigio da equipe Sael. A Sael tinha 2 carros, o “Topo Gigio”, e a Karmann Ghia de Samuel Cohen, Cohen ainda correu no Joana Bezerra. “Topo Gigio”, que era um Fusca cortado e encurtado com a capota de Karmann Ghia pra ficar mais baixo e mais veloz e motor trazeiro 1600, muito bom o carro. NdG: Como surgiu a ideia de correr lá na Cidade Universitária? S.M.: Eu era menino, saía de casa escondido, pegava o ônibus junto ao quartel (da PM) no Derby e assista nos prédios em construção da Escola de Engenharia, os prédios ainda existem. Corremos lá até 69, em 70 teve uma corrida clandestina que foi a minha estreia eu com 17 anos fui 3º na geral, perdi para os 2 Opalas de “Armandinho e Dado” [da Fonte], fui 3º DE Fusca 1600 e 1º na minha categoria. NdG: E lá teve um fato histórico que foi a estreia do DKW Malzoni, isso? S.M.: Com Marinho e Chico Lameirão! O Malzoni quebrou naquela corrida, quem ganhou foi a Simca de Jayme Silva e Ciro Cayres, eu lembro dessa corrida, era um Simca contra duas dúzias de Vemags. Tinham Vemags que vieram de São Paulo, oficiais de fábrica e Vemags que eram daqui de Pernambuco um deles com Gêge Bandeira patrocinado por “Afonte”, “Armandinho” da Fonte. Existem em Recife 2 Vemags de corrida ainda, um está com Armandinho da Fonte, preto #6 e um amarelo no escritório de Zeca Moneiro. Temos 2 Vemags em Recife ainda de competição. Participam de eventos, dia dos pilotos a gente se reúne sempre. Acredito que quinta-feira eles estarão no local aonde nós nos confraternizamos todo ano. Roberto da Fonte, Armadinho, Zeca, o amigo que vos fala aqui... tá jóia? NdG: E passado essa fase da Cidade Universitária teve um certo hiato até surgir o Joana Bezerra? Gegê Bandeira correu de DKW, no circuito da Cidade Universitária, e complicou a vida da estrela da equipe, Marinho Camargo. S.M.: Com o nosso grande presidente “Beto Castro”, Francisco Alberto Pires de Castro que com o apoio do nosso amigo Gustavo Krause [prefeito nomeado de Recife 1979-1982] ajudou muito ali e corremos lá até quando deu, foi quando surgiu a ideia de um autódromo, ficou-se uma dinâmica entre Caruaru e Bezerros e terminou aqui no dia 13 de dezembro (de 1992) a inauguração deste autódromo que até hoje não foi concluído infelizmente. Você veja, o autódromo vai fazer 21 anos e não tem acesso pavimentado, é o único autódromo no planeta Terra que o acesso é de terra, é lamentável mas é verdade. O Ceará inaugurou em 68 e eu estive lá em 69 em 72 já era asfaltado o acesso, é por isso que o automobilismo do Ceará está bem na frente. NdG: E até antes da inauguração do autódromo do Ceará, Recife era o principal polo de corridas no Nordeste, correto? S.M.: Eles corriam no Pici em Fortaleza, eu cheguei a ver Vemags de Fortaleza que corriam no Pici. NdG: E lá na Joana Bezerra como que era o “autódromo”? S.M.: Era um circuito improvisado, tínhamos 4 categorias a “Fómula F” com os Fiats 147, ainda correu em Caruaru no comecinho, depois vieram os Unos, na época a gente não tinha Uno eram os 147. Tinha a categoria que corriam os Voyages “Hot Car”, tínhamos Maverick (Fórmula 5000) correndo no Joana Bezerra, depois chegaram os Opalas que dominaram porque os Mavericks não tinham mais peças, eram as categorias que corriam no Joana Bezerra. E lá grandes expoentes daqui que já vinham da Cidade Universitária: Joca Ferraz, Zeca Monteiro os grandes ídolos e Rogério [Santos]. Rogério é o pernambucano melhor colocado no ranking nacional dos pilotos segundo a Revista Grid e Racing, que são as que a gente lê sobre automobilismo. Foi piloto oficial da Volks e da Fiat, Rogério tem uma história, aonde você chega com uma carteira de piloto, e eu estive no Rio Grande do Sul em 2010 nas 12 Horas de Tarumã –“Como é que está Rogério?”– ele é uma legenda no automobilismo. NdG: Fora as provas aqui o sr. já disputou alguma em outro estado? Jô Regueira em ação no circuito do Derby, nos ano 50. S.M.: Brasília, 1000 Quilômetros corremos daqui de Pernambuco: Eu, Sérgio Clemente (que não é pernambucano é paulista mas radicado aqui correu aqui de Fusca e de Corsa, nós chegamos a correr juntos de Fusca), correu Joca, Zeca, Rogério e Maurício Monte lá também, eles correram de Fiat e de Voyage que na época era um grande carro. Eu corri de Voyage em Fortaleza e corri de Corsa em Brasília, Fortaleza era normal a gente ia muito, na época o Beach Park era gerenciado por um piloto Arialdo Pinho e era mais barato a gente correr em Fortaleza do que em Caruaru. Ele bancava a carreta com os carros da gente e o subsídio que ele pagava a Astrotur, uma empresa que ajudou muito a gente aqui no automobilismo, eu ia antes de carro mas a família ia de ônibus na sexta-feira com os mecânicos e tudo. NdG: E as provas em Salvador como eram? S.M.: Salvador eu lembro de 69, circuito de rua. Eu voltei a Salvador anos depois para o “barródrmo” que tem não em Salvador mas em Camaçari. A Bahia tem 2 “barródromos” um em Camaçari e outro em Barreiras lá quase em Brasília, que tem o Selmo lá que eu corri com ele de [VW] SP/2 em Salvador pra entrar “gordão” é complicado, tem que entrar de ré no SP/2. [risos] NdG: E o resultado, como foi? S.M.: Fui 3º em Salvador. NdG: É muito lindo o SP/2! S.M.: É lindo, ruim é entrar! [risos] NdG: E na Federação... S.M.: Hoje o presidente é Waldner Bernardo “Dadai”, o vice-presidente é Beto Castro e nós ajudamos no que podemos, nós temos 2 pernambucanos ilustres que são Cleyton Pinteiro que é presidente da CBA e Zeca Monteiro que é vice da CBA e diretor da Codasur, Confederação Sulamericana de Automobilismo. E Cleyton é vice-presidente da FIA para a América Latina NdG: E o seu papel como dirigente começou quando aqui na Federação? S.M.: O “Dadai” me convidou para ajudar eu deixei de correr, parei, mas vou voltar! Quando fizer 64 porque eu quero quebrar o recorde que foi do meu 1º ídolo, Chico Landi. Ele correu a última com 3 as Mil Milhas e eu quero correr com 64 anos. Não sei se vai ser aqui ou em Fortaleza ou no Rio Grande do Sul, eu adorei o RS está tendo esse final de semana as 12 Horas de Tarumã, é gostoso aquele autódromo! NdG: Lá do Rio Grande qual o seu autódromo favorito? S.M.: Guaporé! Eu conheço todos 4. Conheço Tarumã, Guaporé, Santa Cruza e Velopark. Velopark é travado, mas tinha uma relíquia lá, uma Vemag eu doido pra dar uma volta nela mas não me emprestaram, eu louco pra andar na Vemag! NdG: Era a paixão do sr.? S.M.: Desde menino pequeno! Quando eu ouvia o ronco do Vemag no Derby, nesse tempo eu morava no [bairro] Derby o ronco era do Vemag e o Citroën fazia curva “com 3 rodas”, ele levantava a roda trazeira, eu era apaixonado! NdG: O sr. assistiu alguma corrida no circuito de rua do Derby? S.M.: Várias! Elas foram no final da década de 50 e começo dos anos 60. A Cidade Universitária já foi em 62, 63 por aí, mas assisti várias corridas no Derby, várias! Vemag, Citroën, tinham outros carros... NdG: Chegou a correr alguma carreteira em Recife? S.M.: Não lembro. Dizem que correu no “Quadrado Mágico” que era em Boa Viagem: Av. Barão de Souza Leão, Aeroporto, Porta Larga, Piedade, Av. Boa Viagem. Quem ganhou em 50 ou 51 foi “Maneca Ferreirra” que faleceu há uns 4, 5 anos. A família nossa é muito amiga da família dele e ele foi ao meu cinquentenário, a maioria dos pilotos foram e “Maneca” foi, ele faleceu há uns 5 anos mas era um grande piloto e ele correu de Carreteira, uma Chevrolet 41 mas com motor mais novo mas não sei, eu não me lembro da corrida, eu tinha 1 ano de idade, eu sei da história por ler em jornais eu leio tudo sobre automobilismo, adoro ler. Foi um prazer, um abraço! NdG: Muito obrigado! Logo após a conversa o convite para e encontro citado na entrevista foi feito tão logo cheguei em Recife já peguei as coordenadas para chegar ao local. O encontro foi realizado no dia 12/12/2013 na sede da Divisa Veículos, uma concessionária de seminovos de propriedade de Roberto da Fonte e que contou com as presenças de figuras como Zeca Monteiro, Armando da Fonte e amigos ligados direta ou indiretamente ao automobilismo. Sergio Drumont – Ex-piloto Nosso primeiro entrevistado foi Sérgio Drumont, 71 um dos mais experientes presentes no encontro e que marcou época correndo no circuito da Cidade Universitária principalmente de Simca: NdG: Quantos anos de automobilismo? S.D.: Automobilismo a gente vai e morre com ele. NdG: Como iniciou a sua paixão por automobilismo? S.D.: Que eu me apercebi eu tinha 4 anos de idade, meu pai tinha um Ford 1938 e eu fui escondido consegui subir no carro e liguei o motor. NdG: E quando o sr. começou a correr? S.D.: 1960, Cidade Universitária com Gordini, depois com DKW. NdG: Como eram os campeonatos em Pernambuco naquela época? S.D.: Muito improvisado, muito amadorístico... não tinha policiamento, os próprios pilotos participavam da organização. A época romântica, do amadorismo. NdG: Como era a rivalidade com outros estados? S.D.: Aqui na região Nordeste praticamente só Pernambuco tinha bons corredores, não existia essa rivalidade, a rivalidade era interna entre os pilotos que corriam aqui. NdG: Quais eram os grandes nomes daquela época? S.D.: Tiveram outros no passado, mas nessa época tinham: “Gêge” Bandeira, Paulo Marinho, “Quinzinho”, “Tonho” da Fonte, o irmão de “Gêge” também correu, Cláudio. NdG: O sr. chegou a disputar contra os pilotos oficiais de fábrica que vinham pra cá, da Vemag, da Willys? S.D.: Sim, essa primeira corrida [1962] veio o irmão de Emerson, Wilsinho. Emerson veio mas não correu, Carol Figueiredo, Eduardo Scuracchio... toda turma da Willys veio correr aqui, depois veio o pessoal da Vemag com o Jorge Lettry que era o chefe da equipe, era o técnico. Lameirão era da Willys, Marinho... Depois veio o pessoal com as carreteiras Simca NdG: Quando ele [Francisco Lameirão] veio pra aqui ainda era da Willys? S.D.: Era. NdG: Depois veio também como Vemag, né? S.D.: Isso, depois veio o pessoal com as carreteiras Simca, Jayme Silva... NdG: E após os anos 60 como que ficou? S.D.: Depois acabou [o circuito de rua] Cidade Universitária e passamos a correr no Joana Bezerra, tivemos também em Fortaleza, mas eu só corri uma vez foi a primeira corrida noturna inclusive com a participação de José Carlos Pace e outros mais. Sérgio pausa a entrevista para cumprimentar o anfitrião Roberto da Fonte: S.D.: Beleza a tua reunião! Estou adorando porque estou vendo esses “antigos”, velhos não, antigos! Que fazia muito tempo que não os via, valeu! R.DF.: Já fez uma entrevista aí? S.D.: Tava dizendo a ele que “sorteasse”, que ele tem Zeca, tem gente aí que realmente enalteceu... R.DF.: Eu acho que aqui o representante oficial é ele (Sérgio). É o mais antigo! S.D.: Mas a quantidade foi muito pequena [número de corridas]. R.DF.: Mas pelo menos fez uma história, mesmo com pouca quantidade fez muita história. S.D.: Mas acho que todo mundo aqui sempre foi muito ligado ao automobilismo, todos. NdG: O sr. correu também de Simca Esplanada (1967/1968), isso? S.D.: Bom, isso aí foi um corridão, deu um trabalho danado porque naquela época a coisa era muito empírica, nós não tínhamos experiência e a coisa era muito na base do experimentar e nessa corrida aconteceu um fato interessante porque alguém inventou de colocar as fitas de freio de elevador [predial] no carro e os pneus também não estavam bem dimensionados. Eu terminei praticamente sem borracha nos pneus, o que vinha atrás de mim com o vidro preto de borracha de pneu e eu sem freio, porque as fitas de elevador comeram os tambores de ferio todos, mesmo assim eu ainda cheguei em 2º lugar. NdG: Depois dessa fase da Cidade Universitária o sr. chegou a correr na Joana Bezerra? S.D.: Não, eu já tinha deixado de correr. NdG: Mas o sr. também correu de Maverick, aonde? S.D.: Maverick foram provas de quilômetros de arranque. Teve o lançamento dos Mavericks de 8 cilindros e nós ganhamos, porque as feras eram os Opalas de 6 cilindros então os Maverick desbancaram os Opalas, isso em 74 na Av. Agamenon Magalhães. NdG: E depois de piloto, o sr. continuou no automobilismo envolvido direta ou indiretamente? S.D.: Isso a gente está sempre ligado, a gente está sempre correndo por aí, mesmo ande não deve, o que não é o certo. [risos] NdG: Obrigado seu Sérgio! S.D.: De nada. Armando da Fonte – Ex-piloto O ponto alto do encontro, ao menos para mim, foi poder entrevistar um dos maiores pilotos da história do automobilismo pernambucano. Armando da Fonte, 66 anos, mais conhecido como “Armandinho” dono de uma história vitoriosa nas pistas pernambucanas e nordestinas ele nos cedeu esta entrevista ao lado do sr. Souto (que em alguns momentos o “aparteou” lembrando de vários fatos curiosos) falando da sua trajetória e de algumas passagens interessantes de sua carreira dentro e fora das pistas: NdG: O nome do Sr? A.dF.: Armando Wanderlei da Fonte Filho, até meia noite! [risos!] NdG: Idade? A.dF.: 66. NdG: Quantos anos de automobilismo? A.dF.: Minha primeira corrida eu tinha 18 anos (48 anos envolvido). NdG: O sr. começou a correr em qual circuito aqui no Recife? A.dF.: Cidade Universitária com um Vemag, corri de Vemag em 1965. NdG: Como era o automobilismo em Pernambuco naquela época? A.dF.: Naquele tempo só se tinha duas coisas: ou tinha motor ou não andava, porque os carros não faziam curva, nem tinha freio. Tinha que ter motor pra andar, quem tivesse motor andava mais. NdG: E como que era com o DKW enfrentar os Simca, os carros com motor mais potente? A.dF.: Os Vemag tinham muita estabilidade e nós tínhamos um grande mestre chamado Jorge Lettry e o “nêgo” (Miguel) Crispim, todo ano me encontro com ele em Poços de Caldas no encontro de Vemags, esse ano fui pra lá, aliás fazem 3 anos que eu vou. Então eles vieram fazer uma corrida aqui, trouxeram 5 carros e Crispim passou para nós todas as dicas de como “fazer” um motor de Vemag, inclusive nos deu bloco, cabeçote, virabrequim... foi deitar e rolar! Inclusive um tal de volante leve e o que era isso? Pegava-se um volante de motor e aliviava-se, então um Vemagzinho com 3 cilindros... Simca só andava se fosse fora da pista, mas dentro da pista não tinha jeito não. NdG: E os circuitos de rua favoreciam ainda mais os DKW né? A.dF.: Muito mais, o carro tinha boa estabilidade, tração dianteira, soltava a traseira mas a dianteira puxava ele tinha motor forte. Naquela época a gente andava com 80HP, o maior motor de Vemag foi 140HP, quem fez foi o “nêgo” Crispim mas quebrava demais. A gente andava com motor de 80HP mais ou menos. NdG: Como era esse intercâmbio junto com o pessoal da Vemag? A.dF.: Nós éramos revendedor Vemag, nossa firma chamava-se “Victor da Fonte”, inclusive correu com o nome “Victor da Fonte” aqui na Cidade Universitária: Marinho que era piloto oficial, “Gêge” Bandeira correu no Mickey Mouse, por sinal até quebrou, com o nome “Victor da Fonte”. Se você botar na internet e botar esse nome você vai ver um Mickey Mouse com o nome “Victor da Fonte” e um “Pumazinho” que ainda não era Puma na época, era Malzoni com o nome (da revenda) na capota. NdG: E foi aqui aonde estreou o DKW Malzoni em fibra de vidro? A.dF.: Exatamente aqui nessa corrida aqui da Cidade Universitária (1964). NdG: Teve até uma história em que o Jorge Lettry trocou o motor do Gêge Bandeira com o do Marinho... A.dF.: Trocou o motor e a caixa de marcha, porque Gêge tinha feito o melhor tempo no Malzoni e o “Mickey Mouse” andava mais, aí botaram Gêge no “Mickey Mouse” e andou mais do que Marinho, eu digo porque eu ajudei a tirar o motor e a caixa de marcha dentro da oficina de noite, quando foi de manhã meu pai dizia: – “Gêge trocaram seu motor e a caixa de marcha”. –“E eu quero lá saber disso, eu quero é correr porra”! [risos!] Botaram um motor pequeno pra ele porque iam ficar desmoralizados, a equipe oficial da Vemag com um piloto oficial andando atrás de Gêge Bandeira, que pra mim foi meu professor me ensinou a andar de Vemag. O melhor piloto de Vemag que eu já conheci no Brasil! Você sabe que ele foi 3º lugar numa Mil Milhas e Interlagos, ele e Paulo Marinho na geral! Na categoria foi campeão na frente da equipe da Vemag, ele teve o apoio da fábrica mas chegou na frente e foi 3º na geral, ele e Paulo Marinho em dupla. A Vemag tinha uma equipe de competição muito boa e através de um revendedor Vemag, (que a gente não era revendedor naquela época) Concórdia S/A falou com a fábrica deram a ele motor, caixa de marcha, etc. Ele pegou o Vemaguinho levou pra lá e foi 1º na categoria e 3º na geral. NdG: O sr. se lembra em que ano foi? A.dF.: Por volta de 62, 63. Eu não era nem revendedor Vemag ainda, eu fui revendedor a partir de 65. NdG: E como era a rivalidade aqui no Nordeste de Pernambuco com os outros estados? A.dF.: Era pau na pista e de noite tomar cachaça juntos [risos] agora na pista era pau! Cacete! Não tinha esse negócio não, mas de noite era tudo amigo. NdG: O sr. se lembra dos nomes de fora que vinham correr aqui? A.dF.: Carlos Pace, Bird Clemente, Wilsinho, Emerson… Emerson veio mas não correu. Jayme Silva. NdG: E daqui do Nordeste, os grandes pilotos dos outros estados o sr. se lembra? A.dF.: Olhe, no Ceará tinha um pessoal bom, Nêne... Nêne não ele era da Bahia, bom piloto... tinha o “véi” Cirino. O “véi” Cirino era doido! Ele fez um protótipo botou um motor de avião de 8 cilindros, aquele menino que era dono do Beach Park... Arialdo (), tinha um Armando lá também andava de Vemag bem, tinha uns pilotos bons lá em Fortaleza, também lá tinha autódromo. NdG: E na Bahia fora Nêne Geladeira? A.dF.: Olha Nêne Geladeira eu me lembro bem, qual era o nome daquele outro piloto da Bahia? [pergunta a Souto Malheiros] S.M.: Era Lula e André Buriti, ficou uma curva de Buriti em Fortaleza que não existe mais A.dF.: Eu tou falando é da Bahia! S.M.: Lula Geladeira e André Buriti! Eram os dois carros 17 e 71, um Puma e um Fusca. Depois quando o Fusca virou compraram outro Fusca, você não estava aqui, estava nos Estados Unidos, foi a única corrida que “Afonte” não participou. Em 69 você correu já de Opala. Vemag em 67 com o #66 foi um dos pegas mais lindos da história! Esse rapaz com o #66, Costinha com o #10 e Gêge com o #8, foi pra arrepiar o coração do garoto de 15 anos! A.dF.: E Costinha me ameaçou me botar pra fora da pista, uma semana antes a gente teve um problema lá e a Vemag #16 bateu nele e eu botei 2 reforços na frente do para-choque da Vemag. O carro dele andava mais que o meu quando eu chegava na reta que ele me passava eu na freada dava uma porrada e ele me deixava passar. NdG: Depois dessa época o sr. passou a correr de... A.dF.: Opala! NdG: Ainda na Cidade Universitária? A.dF.: Uma corrida só, acabou-se. Aí teve uma corrida noturna que eu também corri de Opala... S.M.: O 1º foi ele, o 2º foi o irmão dele e quem foi o 3º de Fusca? A.dF: Você! Aí depois passamos a correr em Fortaleza. S.M. Foi a última corrida em 70, que a polícia queria prender a gente aí “Cali” falou com o pai pra falar com Nilo Coelho pra tirar a gente do circuito. “Armandinho” 1º, “Dado” 2º e Eu 3º. [“Cali” era o apelido Carlos Wilson (*1950 +2009), ex-governador de Pernambuco (1990-1991) filho de Wilson Campos, avô paterno do atual governador Eduardo Campos. Nilo Coelho (*1920 +1983) foi governador nomeado do estado (1966-1971)]. A.dF.: Corrida não oficial... foi a última S.M.: Escondida! NdG: Como foi esse hiato entre o final do circuito da Cidade Universitária e o nascimento da Joana Bezerra? A.dF.: Fomos correr em João Pessoa de carro velho no “barródromo” era pista de barro lá em Cabo Branco nas terras de Fernando Monteiro, eu corria num Chevrolet 57, Antônio meu irmão num 55 o mecânico chefe que fazia os motores da gente era o Luiz Fernando Montenegro, grande mecânico! Aí passamos a correr lá em João Pessoa, depois parou tudinho aí passou pro Joana Bezerra. NdG: E o sr. correu lá de que? A.dF.: Opala e de Chevette também. NdG: E os grandes nomes daquela época? A.dF.: Zeca Monteiro, Joca Ferraz, Rogério Santos, (Arlindo) Burle NdG: E a organização comparando a Cidade Universitária com a Joana Bezerra, quais eram as diferenças era mais organizado ou ainda era o mesmo amadorismo? A.dF.: Tinha mais profissionalismo, eram outros tempos. Na Cidade Universitária só tinha o Automóvel Clube que era um clube de “jogar baralho” que a gente vivia ali malquisto ninguém gostava da gente não. Agora ali (Joana Bezerra) não a gente tinha Federação, tinha sede, tinha presidente, tinha tudo. Outros tempos! Agora, a Federação de Pernambuco teve um grande defeito aqui, nós não temos hoje uma quantidade de pilotos porque aqui nunca teve kart, o kart aqui era uma “engembração” no meio da rua. Fortaleza tem até hoje um forte automobilismo porque começou com kartódromo. Então o cara começa a correr de Kart nunca mais deixa de correr, aqui a gente começava a correr de automóvel. S.M.: A gente veio correr de kart no Geraldão em que ano? 72, 73... A.dF.: Nós não tivemos a escola, a escola quem faz é o kart e a gente não teve o kart aqui. O kartódromo era na rua, por detrás do (ginásio) Geraldão, na Av. Dantas Barreto, no Cais de Santa Rita, depois veio pra Boa Viagem depois morreu um cara em cima do poste. NdG: Em que ano o kart chegou aqui em Pernambuco? S.M.: “Afonte” trouxe uns Mini em 71 e parece que (Sérgio) Drumont trouxe uns FPM um pouquinho depois ou um pouquinho antes, é por aí 71, 72. A.dF.: Nós fomos revendedor do Mini aqui, Antônio meu irmão corria, Roberto da Fonte corria. Eu não corri... S.M.: Você era o chefe de box... A.dF.: Eu não corri porque eu tinha problema sério de coluna o médico disse: – “Porra se andar de kart tu fica aleijado”. S.M.: O irmão mais velho dele dizia: – “Agora ele vai sofrer ficando no box!” quando Antônio ficava na pista ele ficava sofrendo, que no box é pior roendo unha, ele sabe. A equipe deles era Ele, Dado, Júlio, Alfredo... era uma turma animadíssima! NdG: E a organização da Federação daquela época vindo pra cá A.dF.: Você sabe o que é “nitrato de pó de peido”? [risos] Teve um imbecil de um diretor, Tom Unchôa que disse que: –“Piloto e nitrato de pó de peido era a mesma coisa”. Então a gente era tratado desse jeito. Uma vez eu fui preso no Joana Bezerra, cheguei lá fui entrar no box, estava um grande amigo nosso, Lourenço e os seguranças não deixaram ele entrar. Aí eu peguei a minha credencial: –“Pronto entre com a minha credencial que eu fico aqui fora, vá lá dentro peça uma credencial pra você e depois entregue a minha”. Ele foi e o cara lá disse que não dava. –“Então deixe essa porra e fica aí que eu vou pra lá” aí entraram numa porta lá num sei pra onde foram e chamaram a polícia pra me prender. Aí o que é que eu fiz, a televisão estava lá eu fui lá no pessoal e disse: –“ Ó, vão fazer uma reportagem ali que a turma vai prender um piloto que tá sem credencial”. Quando a televisão chegou aí ele abriu deu ré, deram credencial a Lourenço, me botaram pra dentro... a gente era maltratado aqui. Diretor de Federação aqui sabe o que é que fazia? Credencial pra ir assistir o Grande Prêmio do Brasil em São Paulo, eu digo porque eu tinha negócio em São Paulo e chegava lá e dizia ao presidente que era o menino da Nordeste... [Segurança de Valores, hoje Prosegur] Paulo Sérgio: –“Você não dá uma credencial a ninguém que faz automobilismo em Pernambuco, agora traz esses filhos da puta todinho, tudo por conta da Federação, com credencial com tudo”. NdG: Quando o sr. decidiu que era a hora de encerrar a carreira como piloto? A.dF.: Quando eu fui campeão em Caruaru, peguei a chave e entreguei ao meu filho: – “Pronto você agora vai correr de automóvel”. A mãe dele disse: – “Não vai porque ele só tira nota baixa”! Eu disse: – “Com nota baixa ou sem baixa quem vai correr agora é ele”! Ele ainda correu um ano lá, foi 3º lugar no campeonato NdG: Então o sr. ainda chegou a correr no começo do autódromo de Caruaru? A.dF.: Inaugurei o autódromo, eu estive presente na inauguração. NdG: E na história do sr., quantos títulos? A.dF.: Ahhh não tenho na cabeça não. Eu perdi em 1975... nós tivemos uma grande cheia aqui em Recife, meu negócio era lá em Afogados e no meu escritório deu 1,70m, não precisa dizer mais nada. Eu ainda tenho todas as minhas taças, tudo amassadas tudo destruídas mas está tudo guardado, agora o papel que contava a história esse eu não tenho mais. Apesar que quando “Armandinho” não ganhava o campeonato era porque o carro quebrou, quando não era pole... eu nunca larguei, a não ser por sorteio acima do 6º lugar não, quando não ganhava era porque o carro quebrava. NdG: O que o sr. acha que falta para melhorar o automobilismo e voltar aquela força de antigamente? A.dF.: Diminuir a política. NdG: Para o sr. Pernambuco comporta mais outra praça de automobilismo fora o autódromo de Caruaru? A.dF.: Não, de jeito nenhum. Não temos carros de corrida em Pernambuco não. O automobilismo em Pernambuco acabou-se, nós temos e é meu amigo, o ex-presidente da Federação Zeca Monterio, o presidente da CBA e vice-presidente da FIA, Cleyton Pinteiro o que é que veio pra Pernambuco até hoje? Nada. A Stock Car anda na Bahia, lá nem autódromo tem, anda na rua. Nós temos autódromo, porque é que aquela porra não vem pra Pernambuco? Porque não tinha uma ninharia de 2 milhões pra gastar na pista. A Bahia gastou 20 milhões na rua pra fazer corrida de Stock Car e aqui não se arrumou 2 milhões. Automobilismo em Pernambuco eu morro e não vejo mais renascer. NdG: O sr. não tem mais esperança? A.dF.: Eu não. NdG: O sr. ainda tem carro da sua época guardado? A.dF.: O único que guarda memória de automobilismo em Pernambuco chama-se “Armandinho” da Fonte. Eu tenho o 1º Opala de corrida, que meu irmão correu, que eu corri, tenho um Vemag de corrida e tenho meu Opala que eu corri em Caruaru e fui campeão, eu não vendo as coisas não. Eu tenho história e tenho título pra mostrar e os carros funcionam e andam botei em Gravatá lá às 4 horas da tarde ligavam os motores lá, só você vendo a zuada. S.M.: Desde a Cidade Universitária... eu fugia de casa no Derby... porque ele já me deixou em casa, quando eu estava de férias estava com a perna quebrada e não podia dirigir. “Armandinho” é um piloto extraordinário eu vi dois pegas dele, eu com 15 anos na Cidade Universítária. Ele, “Costinha” e “Gêge” e Gêge foi campeão de Mil Milhas! A.dF.: De Vemag não tinha outro piloto não, era ele! A cheia acabou com as minhas coisas, levou tudo, destruiu tudo. NdG: Inclusive os carros de corrida... A.dF.: Inclusive Vemag, os carros antigos que eu tinha também, foi um negócio horrível aquilo ali. S.M.: Olhe, quando Beto “Babaca” e Américo... A.dF.: Ahhh rapaz eu tenho uma fotografia Beto “Babaca” no pódio, eu em 1º, Tonho em 2º e Beto “Babaca”, correu com um Ford 51 lá em João Pessoa. S.M.: Eu lembro do Ford! A.dF.: Tá lá, 3º lugar ele. NdG: E fora piloto, o sr. teve algum cargo? A.dF.: Nunca quis, Ricardo Tavares uma vez me botou como diretor técnico passei 6 meses lá, aí eu disse: – “Ô Ricardo, a gente vai fazer alguma coisa de automobilismo?” – “Não, para o ano a gente faz”. – “Então o cargo está entregue”. [risos] NdG: Obrigado “Armandinho”. AdF.: Diego, foi um prazer! Miguel Meira de Vasconcelos – presidente do CAAPE Outro grande entrevistado presente no evento foi Miguel Vieira, 65, economista e presidente do CAAPE Clube do Automóvel Antigo de Pernambuco, ex-piloto de rali ele fala da sua paixão por automobilismo e antigomobilismo: NdG: Quantos anos de automobilismo? M.V.: Olhe, quem foi automobilista nunca deixa de ser. Hoje eu me dedico ao automóvel antigo, Clube do Automóvel Antigo de Pernambuco, CAAPE. Hoje eu sou colecionador de automóveis antigos, diretor da Federação Brasileira de Veículos antigos que é em Minas Gerais, que é a Federação que congrega todos os clubes de automóveis antigos do Brasil e fui piloto de rali durante 10 anos de 1972 a 1982, pilotei pela Ford e pilotei pela Volkswagen do Brasil aqui em Pernambuco disputando os campeonatos e disputei também 2 campeonatos brasileiros, o de 77 e o de 78. Um foi no Rio de Janeiro e o outro foi em Porto Alegre no Rio Grande do Sul. NdG: Como é que começou a sua paixão por automobilismo? M.V.: Ahhh desde pequeno, essa paixão já nasce em você. Eu aos 8 anos, 9 anos já era fissurado em carros, sempre guardei meus carros (miniaturas) quando era pequeno, nunca estraguei ou joguei fora, então desde pequeno que meu esporte era automóvel. Enquanto muita gente gostava de futebol eu gostava de automóvel. Pedia a meu pai para me levar a Cidade Universitária, cheguei a ver ainda muito pequeno algumas corridas umas 3 ou 4 corridas no máximo no Derby e a Cidade Universitária quando meu pai não podia me levar eu ia só, aí eu já tinha 13, 14 anos e eu ia de ônibus assistir, sempre gostei. NdG: E como era assistir as corridas tanto no Derby, quanto no circuito de rua lá da Cidade Universitária? M.V.: No Derby para lhe ser sincero eu era muito pequeno e não tenho assim grandes recordações, só alguns flashes. Mas na Cidade Universitária o negócio era muito artesanal, porque primeiro, era uma pista que tinha meio fio, ali não era uma pista de corrida, era um centro universitário que se adaptava para se correr lá, era um negócio muito artesanal e até perigoso, porque não dizer muito perigoso. Não tinha arquibancada era umas besteiras a gente ficava tudo no meio da rua isolado por cordas... era uma coisa que se você ver um filme daquela época você não vai acreditar que se corria ali. E corri também durante 3 anos no barródromo em João Pessoa, aí eu corri de 77 a 80. É aonde correram vários pilotos daqui como Armando da Fonte, Antônio da Fonte e muita gente de João Pessoa também e era muito bom, só que lá era um autódromo mas “sem pista” quer dizer, a pista era no barro, sem asfalto NdG: E o pessoal lá corria com o que? M.V.: Olhe quando começou o regulamento era o seguinte: o carro tinha que ser antigo, agora a mecânica você podia mudar. Eu corri em um Chevrolet 1951 com toda a mecânica de Opala NdG: Praticamente uma “carreteira”... M.V.: Exatamente, depois o negócio começou a ficar muito violento... um dia começou a entrar Volkswagen (Fusca), aí começou a entrar Karmann Ghia que era uma carro mais leve você podia preparar ele, era um carro muito mais possante você pegava um motor 1800 e tal, aí durou 4 ou 5 anos, quando começou essa competitividade muito grande deixou de ser uma brincadeira artesanal, porque aqueles carros não desenvolviam muito, aí eu deixei e passei e fiquei só no rali porque era uma coisa organizada e eu participava do clube na época, era o Rali Clube do Guararapes que durante 10 anos aqui no nordeste foi o maior clube de Rali de Pernambuco, pena que esse clube hoje está desativado, mas mandou aqui no rali do Nordeste. NdG: E como eram essas competições de rali aqui em Pernambuco? M.V.: Ahhh meu filho não eram como é hoje não. Hoje é tudo por via satélite, naquela época não, os postos eram presenciais, então você tinha que mandar o cara lá as vezes com gravador, cronômetro pra quando os carros iam passando gravar. Hoje não, é uma maravilha é tudo no satélite, no GPS. A gente corria com máquina de calcular Facit, o copiloto tinha que ser primeiramente muito calmo, porque senão ele não aguentava, aquelas máquinas de vez em quando pulavam, mas era divertido e se correu muito e assim era pra todo Brasil, era pra todo mundo né. Você para aferir o carro por exemplo era twin no master e no swim master que eram umas carretinhas com umas anilhas que você passava horas pra poder acertar a quilometragem do carro, hoje é tudo eletrônico. Agora em compensação a velocidade não era como a de hoje, hoje você tem rali de velocidade que é um negócio estrondoso. NdG: Como surgiu a oportunidade pra ser piloto oficial de fábrica? M.V.: Eu não fui de fábrica, eu fui de uma revenda Ford, não era da fábrica. Eu tinha um amigo que também era piloto que foi chamado pra correr pela revenda e lá ele convenceu o dono que nós deveríamos fazer uma equipe e precisava de 2 pilotos e 2 carros completos, ele aceitou e daí a gente começou e criou escola, a Volkswagen quando quis botar botou também 2 carros, a Fiat estava entrando e botou também 2 carros, cada um tinha uma equipe de 2 automóveis cada um. NdG: Como é que era esse envolvimento das revendedoras com o automobilismo, não só com rali mas também com as provas aqui na Joana Bezerra e na Cidade Universitária? M.V.: Olha, não era muito bom. Ou o dono gostava, se não gostasse mandava nem bater nem na porta como ainda é hoje. O automobilismo de Pernambuco é muito prejudicado por causa disso, porque os nossos revendedores não se unem pra fazer um campeonato forte, o problema é esse, não é da cultura deles. Se você vai a São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre eles se reúnem, mas aqui não, aqui é um mal que a gente ainda não conseguiu ainda dobrar. NdG: Mas antigamente tinham algumas concessionárias envolvidas com automobilismo... M.V.: Tinha. Armando da Fonte, se envolvia porque os filhos dele (Armando e Antônio) corriam. A Sael alguma coisa e a Meira Lins mas o resto era muito difícil. NdG: Como o sr. acha que isso poderia mudar aqui em Pernambuco? M.V.: Meu amigo vou lhe confessar, eu não acho nada sabe porque? Eu estou um pouco afastado disso hoje, eu vim assim pra brincadeira, mas eu não tenho mais... não corro mais, então eu gosto mais é de carro antigo, hoje eu me dedico ao automóvel antigo. NdG: Como é que veio esse envolvimento com clube de antigomobilismo? M.V.: Eu sempre gostei de antigomobilismo e eu tinha carro antigo, só que não éramos organizados em 1983 apareceu um grupo de pessoas aqui que se organizou, criou e fundou um clube, então desde 1983 que eu faço parte. NdG: E os encontros, como que são realizados? M.V.: Toda quarta-feira nós nos reunimos na nossa sede na Rua Nossa Senhora da Saúde na Caxangá, a partir das 6 horas da noite toda quarta-feira, fazemos uma vez por ano um grande encontro em Gravatá, esse ano foi feio o 10º encontro [nos dias 14-16 de novembro] e inclusive foi um encontro que foi Pernambucano e NO/NE que cada ano é em um estado e esse ano foi em Pernambuco. NdG: Esse ano se eu não me engano tiveram 2 encontros de carros antigos lá no Recife Antigo ali perto do Marco Zero, isso? M.V.: Essa prefeitura agora, com esse novo prefeito (Geraldo Júlio) tá querendo resgatar essa cultura, então todo último domingo de cada mês ele faz um encontro de carro antigo lá no Marco Zero, esse agora em dezembro nós vamos ter no dia 29. NdG: Obrigado! M.V.: De nada! Roberto da Fonte – Organizador do encontro. Como não podia deixar de ser entrevistamos também o anfitrião do evento Roberto da Fonte, 64 anos, dono da concessionária onde aconteceu a confraternização, ele fala um pouco da sua passagem nas pistas e no kart e sua opinião sobre o quadro atual do automobilismo local: NdG: Quanto tempo de automobilismo? R.dF.: Em automóvel tenho a minha vida inteira, de automobilismo uns 50 anos. NdG: Como iniciou a sua paixão por automobilismo, por carros? R.dF.: Desde criança NdG: E como o sr. começou a correr? R.dF.: Comecei a correr em 1964 na Cidade Universitária com DKW Vemag só em provas regionais, ganhei umas 2 corridas depois fui para o kart. Aí no kart eu fui campeão, vice campeão. NdG: E como foi a chegada do kart aqui em Pernambuco? R.dF.: Década de 70... NdG: Com os karts Mini? R.dF.: É. NdG: E aqui aonde eram feitas as corridas? R.dF.: “Geraldão”. NdG: E fora o Geraldão? R.dF.: Aí eu não fui mais, no Geraldão eu parei a minha carreira, encerrei ali. Depois fui pra Copa Corsa mas já velho. NdG: E como o sr. analisa a situação atual do automobilismo aqui em Pernambuco? R.dF.: Pernambuco nunca foi pra frente no automobilismo, sempre vai e volta. Não se promove bem, não se cria alternativas para ser mais acessível. O automobilismo Pernambucano precisa de pegar os carros de rua sem custo pra correr. O cara tem um carrinho, bota um “Santo Antônio” e vai pra correr sem gastar dinheiro e não começar a querer fazer carro caro que ninguém tem dinheiro, devia pegar os carros de rua e botar, fazer uma corrida até 1000 cilindradas, pode vir de todo jeito. NdG: Falta um envolvimento das concessionárias? R.dF.: Isso aí total. As concessionárias só quem bota elas pra funcionar são os pilotos, a culpa não é delas não, a culpa é da Federação... não é culpa de ninguém. A história é essa, é que deveria criar uma categoria barata, porque ninguém patrocina aqui. NdG: E a atual situação do kart em Pernambuco? R.dF.: Aí não sei, eu estou completamente por fora... os carros eu estou falando porque eu sempre digo: – “Rapaz vamos fazer uma categoria pra o povo ter acesso”. Você ter seu carrinho ali e gosta de correr, faz uma categoria pra entrar qualquer ano qualquer marca. NdG: E esse encontro aqui que o sr. promove? R.dF.: A gente sempre se encontrava em um posto de gasolina que eu tinha e fim de ano fazia uma confraternização, ela cresceu e dá uma quantidade grande de gente cento e tantas pessoas. NdG: Obrigado! R.dF.: Sempre as ordens! E assim foi o encontro, estava presente também o ex-presidente da FPA e atual vice-presidente da CBA, Zeca Monteiro mas ele não quis falar ao site em virtude do cargo que ocupa e do que alguma declaração sua mal interpretada poderia causar, mas mesmo em off foi possível ouvir alguns causos por ele contados, um bem interessante é de que na década de 80 nos tempos do autódromo da Joana Bezerra o mago argentino Orestes Berta fazia preparação de componentes dos motores de Zeca e que bastava mandar os cabeçotes e comandos junto com um desenho da pista que podia colocar as peças no lugar após a preparação argentina que dava certo, a qualidade das preparações Berta vem de longe... Para mim é sensacional poder ter participado desses momentos graças ao site Nobres do Grid e a esse círculo de novas e boas amizades que só o automobilismo proporciona, já surgiram outros convites nesse encontro e em breve os relatos surgirão por aqui na seção “Octanagem”. Abraço a todos os leitores e “pau na máquina”! Diego Freitas |