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As 24 Horas de Interlagos de 1966 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 02 February 2014 21:43

Costumo dizer que de todas as corridas que participei durante minha trajetória no automobilismo brasileiro, as 24 Horas de Interlagos  sempre foram as melhores  corridas no Brasil, sob todos os aspectos.

 

Tive o privilégio e o prazer de participar da edição de 1966, uma corrida cheia de surpresas e desafios que faziam com que os pilotos que dela participaram pudessem mostrar suas qualidades e coragem, pois foi marcada pela mais forte neblina já vista em Interlagos durante quase toda aquela noite, a visibilidade era ZERO.

 

Eu já tinha participado de varias provas de longa duração e cada vez mais sentia que o Simca entre os nacionais era o carro que tinha um potencial enorme, quebrava pouco em relação aos outros da nossa época como os DKW, Gordinis, JK, e até os importados que alias levavam enorme vantagem, já tinham câmbios de 4/5 marchas, freios a disco e bem mais leves.

 

Nessa corrida  a decisão de participar ou não, como sempre, dependia muito dos patrocínios e a ajuda dada era imprescindível para participar ou não.

 

Eu era um piloto independente, tinha um bom carro nas mãos, mas com pouquíssima ajuda da Simca do Brasil, que obviamente fazia os melhores motores e conjuntos mecânicos, para o departamento de corridas dela, mas sempre acabei disputando com a equipe da fabrica ou estava bem perto e incomodava muito (período anterior aos Abarths).

 

Os boxes de Interlagos eram bem diferentes do que vemos nos dias de hoje.

 

Com muito esforço se conseguia alguma coisa e principalmente para as provas longas, pois a questão do diferencial no Simca  era vital, somente a fabrica  tinha uma relação longa o que economizava motor, enquanto os de serie trabalhavam com muito mais rotação,  pois eram curtos.

 

A decisão veio em cima da hora, a duras penas consegui com o Jaime Silva, um diferencial 10/39 (o famoso) a Pirelli me forneceu todos os pneus, o grande Engenheiro Bernardini levou aquela pilha de pneus Cinturato recém lançados, a Cibié faróis à vontade, e daí o resto foi fácil, aliás eu tinha quase tudo já montado.

 

A largada era no estilo Le Mans. 

 

O motor, um Rally, dupla carburação, muito bem preparado pelo Claude Bernard, o “Frances” que tinha uma experiência e capacidade inigualável no preparo dos Motores Simca, e com a parceria mecânica do Zoroastro Avon, outro apaixonado e grande especialista em  Simca , já tinha participado das  24 Horas de 1960 e com ótimo resultado também. Como iria fazer parte da edição 1966 preparamos os carros quase que juntos.

 

O meu cambio ainda o 3 marchas tradicional, porem com uma relação de marchas muito agradável, primeira longa, segunda  com pouca perda de giros e a terceira muito mais  longa o carro bem aliviado, tinha muito torque e nas saídas  de curva incrível muito rápido.

 

A suspensão perfeita e bons freios , mesmo a tambor ainda, mas davam para o trem de corrida de uma prova dessa duração, onde poupar o conjunto do carro era a única coisa que podia levar a bom resultado.

 

As duas Alfa da Equipe Jolly sairam na frente.

 

Nosso resultado foi para nós muito significativo, o carro andou redondo do começo ao fim, chegamos mesmo a andar em segundo lugar na neblina durante a noite, mas mantínhamos o mesmo ritmo, poupando muito o carro.

 

No final, conseguimos o 4º lugar na classificação geral, o primeiro carro nacional a terminar a prova, o primeiro piloto independente e o primeiro na categoria acima de 2.500 cc. Lembro-me que no dia da entrega de prêmios recebemos 4 troféus, fato histórico  e difícil para um 4º colocado.

 

Meu parceiro foi o saudoso e grande amigo Expedito Marazzi, que guiava com muita regularidade, um das razões que nos levou a obter essa colocação.

 

Nos pits o trabalho era grande.

 

Também durante a madrugada e na  terrível neblina, andamos muito bem, e ao amanhecer o dia já estávamos no grupo dos 5 primeiros e dai em diante foi  andar forte e poder exigir do carro tudo que ele tinha e fora poupado durante á noite, o carro correspondia muito, estava “inteiro”.

 

O vencedor foi Emilio Zambello e Ubaldo Lolli (Alfa Giulia TI). O segundo, Piero Gancia e Marivaldo Fernandes (Alfa Giulia TI). O terceiro, Carol Figuiredo e Chico Lameirão (Renault R 8). Todos importados. Com o nosso carro  Simca Chambord Rally sendo o primeiro carro nacional e apenas a 6 voltas atrás , dos 3 primeiros colocados.

 

Disputa entre Simcas:Lucio Naja e Roberto Gomes.

 

Para mim foi a melhor corrida de longa duração que fiz, continuamos a dupla Walter/Expedito por muito tempo e nas corridas nos completávamos muito bem, ele foi um grande esportista, apaixonado por automóveis e grande piloto.

 

As 24 Horas de Interlagos,  sem dúvida foram as provas que muito ajudaram no desenvolvimento da indústria nacional, tudo que se experimentava ali, ia para a linha de montagem dos carros sem falar na grande habilidade que trouxe aos nossos pilotos, pois era um traçado perfeito, completo, exigia muita coragem, e ter participado de uma das edições dela em nossa época foi glorioso para todos e eu particularmente passei a ter Interlagos “na  minha mão”.

 

Os DKW sempre se saíam bem nas provas de longa duração.

 

Há 1 mês atrás, tive o prazer de ser convidado para participar de uma prova de ex pilotos veteranos em Interlagos, junto com os companheiros da época, grandes nomes e pilotos memoráveis, e francamente ao descer do carro, senti que a geração de hoje pouco teve ou tem para aprender nesse novo traçado, me pareceu uma pista de kart tamanho grande, me desculpem os diretores , organizadores, enfim , creio que nesse traçado atual e tamanho de pista,  poucos e novos campeões  vão despontar disputar uma posição é muito fácil.

 

Num evento há tempos atrás em homenagem ao grande Marinho (que nunca tinha andado nela), ao descer do carro (um DKW) depois de algumas voltas simbólicas me disse em tom de gozação “numa pista dessa, eu corria todos os dias sem cansar o braço, não tem graça”!

 

As Alfa voavam na pista, colocando voltas nos adversários.

 

É a minha opinião, assim como a de todos que participaram do evento, mas que trouxe muita emoção a todos nós, pois foi um grande reencontro na pista de Interlagos que já foi o maior e melhor autódromo de todos os tempos.

 

Fico imaginando como seria hoje, uma edição das 24 Horas, no velho traçado, com os carros nacionais (de verdade) agora  (2014), velozes, com potencia a vontade, bons freios, câmbios sofisticados, trações diversas, pneus fantásticos que existem hoje no mercado enfim uma versão verdadeira das 24 Horas de Interlagos exatamente como eram em nossa época.

 

No final, dobradinha da equipe Jolly.

 

O resultado de vendas para os revendedores da marca vencedora seria enorme, como foi para a Simca e as outras marcas naqueles anos dourados!

 

Abraços a todos,

 

Walter Hahn Junior

 

 

Fotos: ACP, Old Races, arquivo pessoal do colunista.

 

Last Updated ( Sunday, 02 February 2014 22:28 )