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O caso Schumacher PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 13 January 2014 02:22

Olá fãs do automobilismo,

 

Há dois anos estou escrevendo para o site dos Nobres do Grid. Há cada duas semanas, venho trazendo para nossos leitores algumas das sessões de terapia que meus pacientes vem ter aqui no meu consultório. Desta vez, contudo, não partilharei o resultado de uma consulta, mas tratarei de uma questão que atinge praticamente todos os meus pacientes: o vício em adrenalina.

 

O motivo de levar a coluna neste sentido – é claro – deve-se ao que aconteceu com o Michael Schumacher no último dia 29 de dezembro na estação de esqui de Méribel. Sua opção em ter saído da pista convencional da estação para se aventurar entre as rochas e exigir mais de sua habilidade como esquiador, acabou por não sair como o planejado. O resto todos nós temos acompanhado através dos noticiários.

 

Mas o que leva um piloto – aposentado – como Schumacher a expor-se a riscos como o que enfrentou em Méribel? Acontece que ele não é o único a não conseguir ficar longe da sensação de “viver no limite”. Nem é preciso buscarmos em outros esportistas exemplos para descrever isso, vou usar o próprio Michael para exemplificar.  

 

Quem não se lembra dele, aventurando-se em corridas de motocicletas? Em 2009 ele levou uma queda e foi direto para o guard rail quando treinava em Cartagena, na Espanha, visando participar das provas do campeonato alemão de superbike. E este não teria sido seu primeiro acidente.

 

Depois de ter retornado à Fórmula 1, por três temporadas na equipe Mercedes, o heptacampeão foi dispensado. Chegou até mesmo a se oferecer para correr na Ferrari... não conseguiu. Voltou às origens, passando a ser piloto oficial de uma equipe de kart, sempre buscando atividades que o mantivesse sob tensão, sob pressão, vivendo no limite.

 

Clinicamente falando, atividades como a Fórmula 1, ou outros esportes que Michael gostava de praticar, desencadeia uma reação bioquímica que envolve a liberação no cérebro de três substâncias: a conhecida adrenalina, a endorfina e a dopamina.

 

Quando o praticante de uma atividade física extrema começa a se preparar para realizá-la, recebe uma descarga da primeira das substâncias, que é a adrenalina, uma espécie de “mediador químico” que, desde que se começou a estudar as substâncias químicas que atuam no sistema nervoso central, foi identificada como aquela que prepara o corpo para as reações primordiais à manutenção da vida, deixando-o mais alerta.

 

 

Durante a prática da atividade, entra em ação a endorfina, outra substância que também atua como um “mediador químico”. A endorfina tem a capacidade de amortecer a dor e o desconforto provocados por eventuais lesões ou o desgaste físico extremo. Isso explica como pilotos arrebentavam a mão pilotando em Mônaco, trocando marchas manualmente por duas horas e não desistiam, percebendo apenas a gravidade da lesão depois de ter terminado a atividade e o corpo “esfriado”.

 

Por fim, entra em cena a dopamina, que atua no centro de prazer do sistema nervoso, sendo ela a responsável pela sensação de satisfação ao final da atividade.

 

Apesar de se falar muito em adrenalina, está não é a “chave da questão”. O ponto é a terceira substância: a dopamina. Algumas pessoas têm uma “regulagem diferenciada de dopamina”. Quanto maior a quantidade liberada, mais o indivíduo precisa dela. Se ficar sem sua dose de dopamina, ele pode até entrar em depressão ou se tornar agressivo. Seria este o caso de Michael e que ele nunca tenha exposto isso fora de sua vida privada?

 

Ainda não se sabe por que algumas pessoas precisam estimular mais as áreas do prazer do que outras, mas é fato comprovado que algumas desenvolvem um quadro parecido com o da dependência de drogas quando se privam dessas emoções.   

 

Analisando mais detalhadamente, a adrenalina, que é a primeira substância a atuar no sistema nervoso do desportista e que desencadeia todo este processo de estímulo e prazer, vicia como qualquer outra droga, fazendo a pessoa buscar as mais diversas formas de geração de tensão, com a consequente necessidade de novas e sucessivas doses.

 

As descargas de adrenalina provocam algumas alterações no funcionamento normal do organismo, provocando o aumento das frequências cardíaca e respiratória, a elevação do metabolismo e da atividade corporal. A substância inibe apenas a atividade do tubo digestivo nos órgãos gastrointestinais, de resto é completamente estimulante.

 

Quando por algum motivo o praticante não consegue praticar a atividade física desejada, uma reação é o aumento do grau de inquietação, elevando-se eleva a níveis que, de uma forma ou outra, o praticante precisa arrumar uma maneira de “descarregar” a energia acumulada e sentir aquela liberdade. Não é apenas a pratica – no caso do esporte – que satisfaz o praticante, mas o desejo da competição.

 

Em excesso, a adrenalina pode ser prejudicial. Se a pessoa tiver pré-disposição a ter problema cardíaco, ou apresentar alguma falha no sistema respiratório ou cardiovascular, o excesso da adrenalina pode trazer consequências graves, até mesmo uma parada cardíaca. Mas este estava longe de ser o problema de Michael.

 

A endorfina é um neuro-hormônio produzido pelo próprio organismo na glândula hipófise. Sua denominação se origina das palavras endo (interno) e morfina (analgésico). A dificuldade na coleta desse hormônio na região de sua produção explica muito das controvérsias a seu respeito.

 

 

As pesquisas sobre a ação da endorfina tem a maior parte delas realizadas em animais, mas muitas dúvidas ainda persistem. O que se sabe, com certeza é que a endorfina tem uma potente ação analgésica e ao ser liberada estimula a sensação de bem-estar, conforto, melhor estado de humor e alegria. Além do seu efeito analgésico, acredita-se que as endorfinas controlem a reação do corpo à tensão, regulando as algumas funções do sistema nervoso autônomo como as contrações da parede intestinal e determinando o humor. Elas podem também regular a liberação de outros hormônios.

 

Os efeitos da endorfina são sentidos até uma ou duas horas após a sua liberação. Por ser um “analgésico natural” leva a uma sensação de bem-estar e tranquilidade podendo inibir o estresse. A existência de uma possível dependência causada pela prática de atividades físicas é atribuída às concentrações elevadas de endorfina circulante em atletas. Tal fato explica as sensações desagradáveis com desconforto, irritabilidade, ansiedade, depressão e alteração de humor em praticantes que por algum motivo deixaram de se exercitar. Esse quadro é similar a síndrome de abstinência causada por algumas drogas ao terem seu consumo interrompido abruptamente. Constatou-se que o álcool estimula a produção de opióides endógenos, como a endorfina, em certas áreas do cérebro.

 

A terceira substância é a dopamina. Ela é um neurotransmissor da classe das monoaminas, mais especificamente do grupo das catecolaminas. É um neurotransmissor muito importante no controle do movimento, motivação e cognição, tendo ação estimulante no sistema nervoso central, envolvendo-se nas sensações de prazer e motivação. Consequentemente, a dopamina também está envolvida nos processos de dependência (vício).

 

 

A dopamina atua em diversos órgãos do corpo, mas os efeitos da dopamina no sistema nervoso central são os mais interessantes e igualmente complexos no que podemos chamar de “o prazer no cérebro”. A dopamina é liberada durante situações agradáveis e satisfação, dado a qualquer atividade prazerosa. Isto significa que o alimento, o sexo, e diversas drogas estimulantes podem desencadear a liberação da dopamina no cérebro, particularmente nas áreas tais como os accumbens do núcleo e o córtice pré-frontal. A dopamina também age no hipotálamo, mais especificamente na produção de prolactina.

 

A busca e a necessidade por doses cada vez maiores destas substâncias podem levar uma pessoa a achar que precisa fazer “algo a mais” para desencadear este processo, mesmo que para isso elas se exponham a riscos que elas consideram “riscos controlados”, mas que podem exceder este “pseudolimite”.

 

No momento só podemos rezar para que Michael se recupere.

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares