Olá leitores! Desde os anos 80 o brasileiro se acostumou a ver a Fórmula 1 como a totalidade do Universo automobilístico. Não vou negar que (ainda) hoje é a categoria mais glamurosa do rol de competições geridas pela FIA. Mas o fã de automobilismo não precisa ficar com síndrome de abstinência, existe muito lugar onde os motores estão roncando. Cabe-me fazer um parêntese: no Brasil convém diferenciar o fã de automobilismo do fã de Fórmula 1. O fã de Fórmula 1 quer ver aquilo, e apenas aquilo, de preferência com um brasileiro na liderança. Daí o grande número de pessoas que dizem que “a Fórmula 1 acabou após a morte do Senna”. O fã de automobilismo vai saber que naquele fim de semana não teve a categoria máxima, mas que existe um bocado de competições acontecendo, e que alguma delas vai satisfazer o seu gosto. Senão, vejamos: o final de semana começou com os nossos desbravadores do mundo dos V8s e dos ovais correndo pelas suas categorias lá em Phoenix. Miguel Paludo correu 6ª à noite pela Truck Series (chegou em 31º lugar, fruto de uma batida no muro logo no começo da corrida) e o Nelsinho Piquet no sábado não se acertou com o carro, terminando em 18º. Para os que têm uma boa conexão de internet, deu para acompanhar via streaming o Mundial de Endurance (WEC), com as 6 Horas de Xangai. Vitória (de novo...) da Audi, com Toyota em 2º e outro Audi em 3º. Em sua categoria, o carro onde corre o Bruno Senna terminou em 2º. É uma pena que a categoria não tenha transmissão via TV para o Brasil: são 4 categorias diferentes correndo juntas, com classificação em separado, o que torna o espetáculo algo muito bonito de se ver, pois não é incomum carros mais rápidos perderem tempo atrás de carros mais lentos disputando posição dentro de sua categoria. Quando a corrida entra pela noite, então, o entusiasta já vai lembrar de memoráveis relatos envolvendo 24 Horas de Le Mans, 24 Horas de Daytona, 12 Horas de Sebring... De quebra, tecnologicamente ela está mais evoluída que a F-1, com carros híbridos à diesel (Audi) ou gasolina (Toyota) mais eficientes que os sistemas em uso atualmente na categoria mestra. Um verdadeiro show de roda. Já no domingo, as pistas brasileiras tiveram seu momento de ação. Em Brasília, no sítio arqueológico chamado Autódromo Internacional Nelson Piquet (sim, sítio arqueológico, o asfalto é o mesmo desde a inauguração) tivemos a penúltima etapa da temporada, disputada pelo anel externo (ouvi histórias terríveis a respeito do estado de conservação dos guard rails no miolo do circuito, talvez seja esse o motivo da escolha do anel externo). Vitória do competente Thiago Camilo, que deu um importante passo para tentar a conquista do seu primeiro título na categoria na Corrida do Milhão, última etapa a ser disputada em Interlagos, com pontuação em dobro. São 4 os pilotos que disputam o título, e como a pontuação é dobrada quase tudo pode acontecer, até mais um título do Cacá Bueno, 4º colocado no campeonato com 25 pontos a menos que o Thiago. Recomendo acompanhar a prova com atenção, a corrida será em 15/12. A Fórmula Truck (nunca entendi esse nome “Fórmula” para a categoria, enfim...) correu no belíssimo autódromo de São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, e a situação do líder Beto Monteiro (Iveco) que estava confortável antes da corrida ficou um pouco mais apertada. Ele vinha em um bom 4º lugar quando sofreu uma punição por excesso de velocidade no radar (prometo um dia fazer um texto explicando essa filigrana do regulamento), cumpriu o drive-through e terminou a corrida em 8º... continua na liderança, mas com menor vantagem, já que o 2º (Boessio), o 3º (Totti) e o 4º colocados (Giaffone) no campeonato chegaram à frente dele. A vitória foi do ótimo Felipe Giaffone (MAN), de família com muita tradição nas pistas brasileiras. Agora a decisão será em 08/12, corrida no anel externo de Brasília, e as corridas da Truck no anel externo costumam ser imprevisíveis. Até pelo inusitado de se ter veículos tão pesados a tamanha velocidade (os caminhões passam dos 200 km/h sem grandes problemas), quebras mecânicas e furos de pneus não são a exceção. Admito que é necessário uma dose extra de coragem para acelerar lá. Por fim, saindo das 4 para as 2 rodas, aconteceu a etapa final do Mundial de Motovelocidade, com a consagração dos campeões Maverick Viñales (Moto 3), Pol Espargaró (Moto 2, campeão por antecipação) e Marc Márquez (Moto GP). Márquez pode ser considerado o “novo Valentino Rossi”, sendo campeão da categoria máxima com apenas 20 anos de idade. O estilo de pilotagem dele me lembra muito o próprio Valentino quando novato, sempre com a faca entre os dentes e com um controle impressionante da motocicleta. O mais legal é que ele é arrojado sem ser inconsequente – na maior parte do tempo, afinal é um recém saído da adolescência. Exatamente como o Rossi era. Sem querer desmerecer a concorrência, mas o Pedrosa é ótimo quando está correndo sozinho na frente, e o Lorenzo é muito bom, mas não vejo nele aquela “gana” que eu via no Rossi e que vejo no Márquez. Com esse monte de motores roncando, deu para sentir falta da corrida de F-1? Eu não senti! Até a próxima! Alexandre Bianchini |