Vou dar continuidade ao assunto do mês passado em contra-ponto à enquete do site dos Nobres do Grid, que questiona sobre o futuro do nosso automobilismo perguntando se a fonte secou.

Como todos já leram, no meu ponto de vista nunca tivemos uma escola de base tão competente como hoje, com pilotos formados, e bem formados, nas categorias do kart. Existe uma cultura chauvinista que entende que nossa água é benta e que nosso solo é sagrado e que os brasileiros são melhores que os outros, e pior... acham que somos  “celeiro” de pilotos. 

Que triste ilusão!

Tivemos anos brilhantes por conta de uma conjunção astral, pessoas certas nos lugares certos e nas horas certas. Numa época que tudo era mais fácil e número de pilotos era muito menor. Foi informalmente instituída uma cartilha, um manual de procedimentos para chegar na F1. 

Era o caminho seguido e talhado por Emerson, que deu certo, era um manual de procedimentos que começava por se casar e levar a mulher pra Inglaterra para suportar o tédio e a solidão. Casado o sujeito não ia farra e estaria sempre acordado de manhã para estar junto aos mecânicos da sua equipe de competição, que necessariamente tinha que ser perto de sua casa. Era conveniente almoçar com os mecânicos para se fazer uma intimidade . Tinha que começar na F Ford, depois F F2000, F3, F2 e finalmente a F1. Esse caminho e esses procedimentos foram seguidos a risca por todos os pilotos brasileiros, entre eles  Alex, Chico, Ingo e Piquet, que se arriscaram a uma aventura europeia de 1968 até o Ayrton em 1981.

Ayrton Senna seguiu a "fórmula" que veio dando certo desde os anos 60 para chegar à F1. Esta "fórmula" não funciona mais. 

O tempo e as dezenas de tentativas frustradas mostraram que existe vida fora da F1, pode-se ser profissional de corridas na América, no Japão e até mesmo no Brasil. Mas até hoje tem gente que quer chegar a F1 pela fórmula e caminho antigos. E fatalmente morrem na praia. 

Não é necessário dizer que o mundo mudou, as coisas e costumes mudaram. A cultura automobilística europeia mudou e hoje o caminho para se chegar na F1 é determinado pelas grandes equipes que escolhem potenciais pilotos já no kart europeu. Escolhem e apadrinham meninos dos 11 aos 14 anos. Estes passam a frequentar a escola Ferrari, Red Bull, Mercedes, Renault e outras, e suas carreiras passam a pertencer às grandes equipes e mudam de categoria conforme sua vontade e conveniência.

Assim foi a carreira de Schumacher, Hamilton, Rosberg, Massa, Alonso, Vettel, Grosjean, Sutil, Ricciardo, Bianchi e Vergne. Ah, existe também um outro bom caminho para se chegar na F1: é levar do seu pais um patrocínio de US$50.000.000 da estatal petroleira ou da companhia de celulares.

Finalmente quero lembrar “o grande mal” que Ayrton fez a uma geração de jovens pilotos brasileiros, que deveriam acreditar no seu sonho que ele se realizaria... Isso criou uma legião de frustrados e de jovens que não deram certo na carreira de pilotos e chegaram sem preparo para a nova vida no mundo real, por não terem estudado no período em que eram pilotos. Sempre falo: sem essa de sonho, pés no chão, gente!

E olhem... tivemos gerações de grandes pilotos que estão todos por ai . Pilotos nós temos, a fonte não secou, o que eles não tem é planejamento competente de carreira e patrocinadores a altura de seus projetos.

Fatalmente ficaremos por um período sem pilotos na F1, até que os brasileiros que começam a serem observados hoje no kart europeu tenham sucesso e cheguem lá. 

O Brasil continua presente e fazendo um bom papel com seus kartistas nos certames no exterior.

Breve História do Kart Brasileiro l  ( 1960 a 1969 )

A partir desta edição vou contar aquilo que chamo da verdadeira história do kart. Verdadeira, pois sou testemunha de boa parte dela e por já ter visto textos mentirosos e mal escritos, apesar de terem sido elaborados por pessoas de boa vontade mas que nunca andaram de kart e não participaram da sua história.

O kart começou das mão e iniciativa de Claudio Daniel Rodrigues que produziu o Rois Kart. Inicialmente 6 veículos para amigos que fizeram a primeira corrida em 1960.

Foi pelas mãos de Claudio Daniel Rodrigues que os karts chegaram ao Brasil.

Praticamente ao mesmo tempo surgiram o MOKART do João Augusto Amaral Gurgel e o SILPO feitos pelo Silvano Pozzi que era fazia motos de corrida.

O MOKART teve vida curta não durou 3 anos . A MOKART idealizou o primeiro kart Indoor e de locação brasileiro, na frente da TV RECORD na época na Rua Miruna, esquina com Ruben Berta em SP, na época tinha uma pracinha onde o Tche fazia manutenção dos karts que eram ali mesmo alugados. 

Os motores do ROIS eram feitos pela Mecânica RIOMAR, Mario de ao contrário que produzia motores de popa e conjunto de aceleradores e volantes de barcos. 

Nessa mesma época o Claudio Daniel, que dizem era muito louco, simplesmente desistiu e abandonou o kart. Os ROIS andavam inicialmente com um motor BX, o McCullock brasileiro, quem será que tem uma relíquia dessa ? Acho que o Marcelo Afornali me mostrou um achando que era um McCulloc americano.

Nesse período, 1965, Wilson e Emerson Fittipaldi junto com o Totó Porto, que corriam de ROIS, resolveram fazer um kart ao estilo Sprint americano, deitado, pois os karts americanos corriam em autódromos e desenvolviam grandes velocidades. Diferentes do Silpo, sentado ao estilo europeu. 

Nasceu o Kart Mini

Durante muitos anos, os Kart Mini foram dominadores das competições nacionais. Acima, Maneco Combacau.

A MINI dos Fittipaldi e do Totó que era na Rua Tabapuã no Itaim, durou até 67 quando o Emerson resolveu se arriscar na Inglaterra e vendeu todos seus pertences e sua fábrica de Volantes F1.

A Mini não tinha interessados e acabaram dando a pequena fábrica pro Mario de Carvalho. Dono até hoje da MINI KART maior fábrica de karts do Brasil, hoje tocada pelo seu filho e netos.

Mais uma curiosidade... Em 1964 Waltinho Travaglini que acompanhava seu primo Affonso Giaffone numa corrida em Ribeirão Preto, acabou estreando e vencendo. Venceu também a sua segunda e terceira corrida. ‘Seu’ Silvano Pozzi, um homem mal humorado e grosseiro mandou que o jovem Waltinho fosse até sua oficina:

- “Amanhã de manhã sem falta!”

Lá foi o Waltinho morrendo de medo... Chegando lá, mandou ele sentar no chão com os braços esticados como se estivesse segurando um volante. E com um giz na mão começou a contornar o corpo do menino no chão. “Você vai ser meu piloto!”

E assim foi criado o SILPÃO, aquele um com a frente redondona.

Silvano Pozzi foi um dos grandes fabricantes de kart e dividia os títulos com os Mini.

A SILPO permaneceu até meados de 1967 quando foi comprado pelo Affonso Giaffone que corria de SILPO e fez a FBM. Nascia a maior rivalidade do kart brasileiro de todos os tempos, mas isso é história pra próxima coluna.

Destaques do mês:

Estreou no Brasil o Kantan Kart, categoria internacional que corre com karts e motores PCR italianos para meninos de 10 a 16 anos e teve como destaque o piloto paulista Arthur Fortunatto vencedor das duas etapas, realizadas em Paulínea e em Guaratinguetá.

Kantan Kart

Foi realizado no Kartódromo da Granja Viana o I Campeonato Brasileiro Rotax que selecionou os vencedores Nelsinho Stanisci, Yuri Alves e Caio Collet para disputarem a Rotax Max Challenge Grand Final em Nola nos EUA.

Kart Rotax

Guilherme Oliva se sagrou o primeiro Campeão Fluminense de Pilotos Cadetes , em torneio disputado em Volta Redonda, o único kartódromo oficial do estado do Rio de Janeiro.

Gui Oliva

Foi disputado em Sarno-IT o campeonato Mundial de KJ ( juniores ) com grande destaque para Giuliano Raucci que vence a bateria Pré-Final e por pouco não se tornou Campeão Mundial.

Giuliano Raucci.

No próximo mês, continuamos.

Abraços,

Dionísio Pastore